Eventualmente mais do que em qualquer outra actividade económica a agricultura é atreita a variações de produção que no caso de excedentes se aconselha o seu aproveitamento pela transformação industrial. Existem já indústrias de bebidas (aguardentes, licores, café, vinho, sumos), doces, compotas, enchidos, requeijão e queijos de boa qualidade (cabra e vaca). No entanto, salvo raras excepções, nomeadamente a do vinho do Fogo e aguardente, são experiências muito incipientes, carecendo de produção fito e zoosanitariamente controladas, tecnologias e «know-how» que confiram formulação estável e adequada, embalagem, rastreabilidade, regularidade de fornecimento ao mercado e marketing.
O vinho
Numa produção que pode rondar as 300.000 garrafas em 2013, a ilha do Fogo destaca-se pelo vinho, nacional e internacionalmente apreciado, de características únicas que lhe são conferidas pelas encostas férteis do vulcão que lhe dá o nome. Com iniciativas diversas que vêem apurando a variedade das uvas e a qualidade do processo produtivo, abrem-se portas à exportação viabilizando um produto particular, merecedor de referência especial, emblemático de uma região.
O café
Com uma reputação secular, que há muito ultrapassou as fronteiras do arquipélago, a ilha do Fogo produz, na zona de Mosteiros, um apreciado café (Coffea Arabica L.), de qualidade superior. Experiências anteriores colocaram este café em mercados internacionais mas os métodos biológicos e artesanais de cultivo, de responsabilidade de pequenos agrupamentos de agricultores, nunca permitiram quantidades significativas e regulares de produção que sustentassem consistentes iniciativas na sua comercialização. Os recentes desenvolvimentos no sector agrícola e as promissoras perspectivas na produção do vinho reforçaram a aposta neste produto exclusivo da ilha no qual se vêm introduzindo plantas novas e acompanhamento técnico numa renovada orientação para o mercado.
Aguardente e licores
Tendo a cana-de-açúcar como um dos mais disseminados cultivos o seu aproveitamento para o fabrico de “grogue” (aguardente) é apenas uma consequência natural. Produzido por métodos artesanais em “trapiche “ (moinho de cana) e alambique (destilação) o “grogue” é o produto agroindustrial melhor comercializado (embalagem e exportação) encontrando-se numa variedade de marcas em qualquer ponto de venda. As exigências internacionais na higiene, qualidade e teor de álcool obrigam à gradual alteração dos métodos de fabrico e adopção de destilação industrial. Para escoamento da produção de aguardente de menor qualidade e excedentes de frutas a opção tem passado pelo fabrico de licores e “pontche”, bebidas alcoólicas mais ligeiras.
Doces e compotas
Basicamente sinónimo de empreendedorismo familiar as pequenas unidades de transformação de frutas e hortícolas têm o condão de combate à pobreza rural e fomento do auto-emprego. Ao aproveitar produtos que de outro modo não teriam escoamento abrem espaço para a valorização do trabalho agrícola. Com forte potencial de introdução nos canais de venda e abastecimento de unidades hoteleiras são excelentes oportunidades de negócio mas onde se colocam os incontornáveis desafios de cumprimento das normas sanitárias e exigências de qualidade.
O queijo
Em várias ilhas de Cabo Verde, essencialmente nas zonas rurais, por grupos ou associações o queijo é produzido como alternativa às dificuldades de escoamento do leite fresco. Embora predomine a produção artesanal, onde se destacam os apreciados queijos de Santo Antão, Boavista, Fogo e Maio, surgem já unidades melhoradas e semi-industriais utilizando leite pasteurizado na produção de queijo e requeijão que contribuíram para um crescimento de 60% da produção entre 2010 e 2012 (de 310 ton. para 500 ton.). Naturalmente, num país onde a disponibilidade de água é sazonal, a insuficiente disponibilidade de pasto para alimento do gado resulta na irregularidade do fornecimento de leite e da sua qualidade, com reflexos imediatos na produção e até, mais numas do que noutras ilhas, na sobrevivência das unidades produtivas. A adopção de técnicas hidropónicas na produção de forragem poderá, eventualmente, fazer parte da solução. Acresce o facto de estes produtores de queijo não possuírem gado próprio o que os coloca na dependência dos fornecedores. Subsistem alguns outros desafios, ao nível do controlo zoo e higiosanitário, desde a alimentação e saúde dos animais, à ordenha, tratamento do leite até ao acondicionamento e transporte do produto. Ainda assim afigura-se como uma excelente oportunidade de negócio dado que este produto tem as características muito próprias, é apreciado nacional e internacionalmente e atinge já, sem grandes constrangimentos, os mercados domésticos e da restauração.
Centros de processamento
Nas ilhas de potencial agrícola surgem, por iniciativa e concretização governamental (Ministério do Desenvolvimento Rural), centros de recolha e processamento de produtos agrícolas que para além de garantirem o aproveitamento de excedentes preconizam um reforço do rendimento dos agricultores, a definição de padrões de higiene e qualidade rumo à certificação e a possibilidade de criação de marcas com vantagens ao nível da afirmação regional. Apesar de constituírem uma aposta meritória, mas ainda não ganha –longe disso, estes centros de processamento carecem de identificação dos modelos de gestão adequados ao conflito entre investimento público e interesses privados. No entanto são já uma realidade no Porto Novo (Santo Antão), no Fogo, brevemente em São Nicolau e Santa Cruz (Santiago) e futuramente São Vicente e Maio.
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