O ex-comissário europeu para a Justiça e Assuntos Internos, o deputado socialista António Vitorino, defendeu hoje, na Cidade da Praia, que a aproximação de Cabo Verde à União Europeia terá vantagens mútuas. Após um encontro com o primeiro-ministro caboverdeano, José Maria Neves, António Vitorino considerou que as preocupações principais da agenda do governo de Cabo Verde coincidem, em larga medida, com as da própria União Europeia. O deputado português referia-se, particularmente, aos objectivos de garantir a paz e a estabilidade, controlar os fluxos migratórios e lutar contra a criminalidade transnacional organizada, designadamente o narcotráfico.
"Creio que este processo de aproximação de Cabo Verde à União Europeia corresponde a um interesse mútuo", disse o ex-comissário europeu, que se mostrou optimista quanto às vantagens que este processo pode trazer para ambas as partes. Em Cabo Verde para participar no IV Congresso dos Quadros Cabo-verdianos na Diáspora, decorrido entre 19 e 22 de Abril, Vitorino afirmou perante os congressistas que o arquipélago pode dar, mesmo antes da confirmação oficial da parceria especial com Bruxelas, passos importantes nesse sentido.
O projecto de Cabo Verde de obter um estatuto especial junto da UE está ainda em debate, mas, no entender de António Vitorino, "há muitas coisas concretas e pragmáticas que podem ser desenvolvidas, no curto prazo, com vista à construção de uma relação de confiança na cooperação" com a União Europeia.
O deputado português referiu-se nomeadamente a "iniciativas positivas" nos domínios da segurança, da luta contra a criminalidade e a colaboração na regulação dos fluxos migratórios provenientes do continente africano. Para António Vitorino, o processo de aproximação de Cabo Verde à UE está a ser bem conduzido, através dos canais diplomáticos e com o apoio empenhado de Portugal enquanto membro da UE.
Segundo defendeu, poderá ser benéfico para Cabo Verde desenvolver relações com um conjunto de instituições que têm ligações directas com a União Europeia e os 25 Estados membros. A título de exemplo, referiu instâncias envolvidas na luta contra o crime organizado e o tráfico de droga, e outras que actuam na regularização dos fluxos migratórios.
Por sua vez, no mesmo Congresso, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, Victor Borges, defendeu hoje que a aproximação do arquipélago à União Europeia (UE) não deve significar um afastamento da sua integração sub-regional africana. Esta posição surge num momento em que a sociedade caboverdeana discute uma redefinição das prioridades geo-estratégicas, onde uma aproximação à UE provocará, segundo alguns sectores, um progressivo abandono da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO).
"Neste espaço -referindo-se à CEDEAO- o país pode encontrar mercado e oportunidades em termos de transportes marítimos, além de servir como plataforma entre África, Europa e América", apontou o responsável pela diplomacia caboverdeana. "O país tem de maximizar as relações bilaterais estratégicas com todos os seus parceiros e países que querem investir no território nacional", enfatizou com o objectivo de sustentar a tese de que Cabo Verde não pode abdicar de algumas parcerias em função de outras. Referindo-se à "almejada" parceria especial com a União Europeia, Victor Borges esclareceu que a pretensão do país é ir além dos acordos internacionais já existentes e construir "um espaço de segurança e dinamismo económico", que permita "mais possibilidades de desenvolvimento a Cabo Verde".
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