Muito provavelmente o 11 de Setembro de 2001 terá sido a chave para a obtenção do Estatuto Especial de Cabo Verde perante a União Europeia. Poderá parecer estranho mas este trágico momento ditou uma viragem nas políticas e estratégias internacionais de Segurança dos espaços europeu e norte-americano que culminaram, para Cabo Verde, com os exercícios “Steadfast Jaguar 2006” que a NATO realizou neste arquipélago entre 14 de Junho e 7 de Julho utilizando 7.000 efectivos e diversos meios aéreos e navais.
O tráfico de drogas e seres humanos (emigrantes clandestinos da costa de África que procuram Cabo Verde como trampolim para a Europa via Canárias), e subsequente branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, que se aproveitam da impossibilidade caboverdeana de patrulhar as suas águas territoriais e os mais recônditos locais das suas ilhas transformando-as numa importante plataforma de apoio e distribuição de negócio ilícitos, criaram problemas de tal modo sérios que os países mais afectados (Portugal, Espanha, França e EUA) e a NATO, assumiram a importância do controlo desta região como forma de obviar males maiores.
Para Cabo Verde era já claro que apesar dos esforços internos, naturalmente limitados e insuficientes perante a extensão da sua Zona Económica Exclusiva (734.265 Km2), a superior capacidade financeira e logística destas organização ilícitas não lhe permitiria, por si só, fazer face a esta ameaças sem parcerias. Daí à prontidão da oferta de patrulhamento das águas caboverdeanas pelas Marinhas portuguesa e espanhola -integradas numa missão da Frontex, agência europeia de controlo de fronteiras- foi um passo. Aliás, para sermos sinceros com uma celeridade que nos deixa espantados. O problema afinal será bastante mais sério do que alguns poderiam pensar; Cabo Verde parece mais importante do que outros julgariam.
Se inicialmente as âncoras para a obtenção do apreciado estatuto seriam as habitualmente tão convenientes afinidades culturais e biológicas e a partilha de valores fundamentais com o mundo ocidental nunca, como agora, se percebeu que das afinidades podem nascer laços de cooperação mais profundos e concretos com amplas vantagens para ambas as partes. Finalmente, e como venho apregoando, é tempo de transformar as Afinidades em Negócios ou seja vantagens bilaterais bem palpáveis e cujos benefícios sejam perfeitamente quantificáveis por ambas as partes. É a Cooperação Bilateral, política e económica, no seu melhor.
Cabo Verde, embora hipoteticamente pobre, tem hoje um bem precioso (se não tiver outros....) a oferecer ao mundo ocidental: a Segurança a uma distância confortável das suas fronteiras. Este facto é um desafio às autoridades caboverdeanas. Gerir este recurso da melhor forma possível, obtendo o máximo proveito em nome do progresso de Cabo Verde, sem ferir susceptibilidades africanas, é o “ovo de Colombo”.
De um outro ponto de vista, claramente no âmbito dos objectivos da Câmara de Comércio Portugal Cabo Verde, estes sinais são a certeza de Paz, Segurança e Estabilidade Política e Económica em Cabo Verde, de uma crescente integração no espaço europeu e da capacidade para continuar a atrair capitais e apoios para financiar o seu desenvolvimento.
Os ingredientes necessários para que os empresários portugueses entendam as oportunidades que isso representa.
Haja perspicácia e ousadia pois outros se perfilam...............
João Manuel Chantre
Vice-Presidente Executivo
Câmara de Comércio Indústria e Turismo Portugal Cabo Verde
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