Numa empresa visivelmente bem gerida e tecnologicamente apetrechada, António Dias confirma a sua visão de há 21 anos. A MARMOD-Transportes Marítimos Intermodais, uma das melhores empresas transitárias a trabalhar com Cabo Verde, encontrou neste mercado o suporte do negócio que hoje se estende do Norte da Europa até Angola.
António Dias, conte-nos como surge a sua ligação com Cabo Verde. Iniciei os meus contactos com Cabo Verde em 1985 quando trabalhava para uma outra empresa transitária, e desde cedo acreditei que Cabo Verde, pela forte ligação que demonstrava com Portugal, prometia ser um mercado com um bom potencial de crescimento. Apesar dos condicionalismos do transporte convencional que se utilizava nesses tempos, em navios de bandeira caboverdeana, mais pequenos do que os actuais, como o ELSIE, o mercado acabaria por evoluir para o transporte contentorizado com o aparecimento da CGTM-Companhia de Gestão de Transportes Marítimos. É nessa altura que aparecemos no mercado. Desloquei-me a Cabo Verde para fazer um reconhecimento, ainda no tempo do plafonamento das importações, e iniciei uma relação próxima com os importadores. Na altura era mais fácil pois havia 20 ou 30 importadores, embora houvesse uma dezena de importadores de maior dimensão, e aqui presto a minha homenagem a uma pessoa que faleceu há pouco tempo, o Senhor Marino Gomes dos Anjos, a quem na altura chamávamos o “Cônsul de Portugal”. Recebia-nos muito bem, facilitava contactos, dava-nos apoio, era uma pessoa muito social; eram conhecidos os seus almoços em São Domingos quando convidava também os portugueses com quem fazia negócios. Teve, de facto, muita importância naquilo que é hoje a relação comercial entre Portugal e Cabo Verde. Jamais esquecerei o Senhor Marino dos Anjos. É deste tipo de relações que me nasce o gosto e a ligação a Cabo Verde. Fazendo as contas, desde há 21 anos que vou a Cabo Verde e se contar cerca de 1 mês por cada ano, talvez até mais, já passei 2 anos da minha vida em Cabo Verde.
Mas se nessa altura trabalhava para uma outra empresa como e quando nasce a MARMOD? Quando decidi iniciar a minha própria actividade como transitário adquiri em 1996 a maioria do capital da MARMOD, que já existia como agente de navegação desde 1993, apoiando-me essencialmente no nosso principal mercado, Cabo Verde. A partir daí desenvolvemos a ligação a outros destinos em que os mais importantes são as Canárias, Guiné, Angola e São Tomé. Cabo Verde é o primeiro mercado para nós, tanto ao nível da carga marítima como na carga aérea, representando 36% dos nossos resultados, e a quem nós nos dedicamos de “alma e coração”. Desde o início fizemos uma parceria com a AGEMAR em Cabo Verde, uma empresa muito séria, de sócios caboverdeanos, parceria essa que nos tem vindo a ajudar a consolidar a nossa posição em Cabo Verde.
Diga-nos como é que essa sua visão, de 1985, que se pode considerar estratégica, se reflecte hoje no sucesso e no serviço prestado pela MARMOD? Conhecendo bem as Canárias, sempre acreditei que Cabo Verde seria uma aposta que daria os seus frutos. É certo que as Canárias, pelo facto de serem parte integrante de Espanha, tem vantagens e apoio financeiro que lhes permitiu um desenvolvimento mais rápido; mas Cabo Verde foi-se consolidando, ao longo dos anos, lenta mas consistentemente. Como País, ao nível das suas infraestruturas e da própria economia. Para além disso não tenho dúvidas que a minha relação pessoal com Cabo Verde e com os importadores me dá vantagens. Porque é uma relação muito próxima. É evidente que o mercado é muito competitivo, mas desde que tenhamos “serviço” obteremos sempre vantagem. E nós temos o “melhor serviço” e o “mais regular”. Fazemos contentores completos, grupagem, viaturas, cargas para as quais garantimos entrega todos os 10 dias, salvo qualquer incidente anormal que afecte o funcionamento da linha marítima. Mas ao longo dos anos temos conseguido uma elevada regularidade que nos permite manter os nossos clientes satisfeitos. Para qualquer emergência temos o serviço de carga aérea que chega a Cabo Verde praticamente em 24 horas, com segurança absoluta.
Aliás sabemos que foram premiados pela TACV repetindo o ano passado.......... Não repete exactamente porque o do ano passado era de segundo lugar e este ano foi do “Melhor Cliente de Carga Aérea”.
Ao nível da actividade pode quantificar o volume de carga que transportam para Cabo Verde? Nós temos uma actividade para Cabo Verde que ronda os 3.000 contentores por ano. Mas além da carga contentorizada temos as viaturas, alguma carga convencional e carga aérea. Na carga marítima trabalhamos mais com a Transinsular embora também carreguemos na Portline e na Cabomundo, e até utilizamos bastante a Cabomundo atendendo que serve a Ilha do Sal pois os seus navios, pela sua menor dimensão, permitem servir directamente esta ilha. No caso da carga aérea entendemos que a TACV, que voa para diversas ilhas, nos dá a melhor cobertura do País; temos uma boa relação com a empresa de modo que essa é a nossa aposta. E não queria deixar de reconhecer que a Dra. Eunice Barbosa (clique aqui e aceda a Entrevista), Delegada Ibérica dos TACV, tem sido uma pessoa muito correcta e tem incentivado esta relação.
Para manter um elevado nível de qualidade de serviço a empresa não pode ser a mesma que encontrou em 1996....
 Quando a comprei a MARMOD operava com 6 pessoas. Quatro em Lisboa e 2 no Porto. A empresa tem uma atitude no mercado de grande dedicação e elevada especialização que nos permite afirmar com orgulho que seremos das melhores empresa a operar em Portugal, neste ramo. Hoje temos 10 pessoas em Lisboa e 8 no Porto e participações em empresas no Norte da Europa, em Cabo Verde e na Guiné.
Qual é a sua apreciação sobre as condições de trabalho que o País oferece? É de facto muito importante que nos próximos anos se criem condições portuárias adequadas. Enquanto o Porto Grande (Mindelo-São Vicente) tem de facto qualidade, tem todas as condições para operar, as 2 outras ilhas mais activas em termos de carga, o Porto da Praia (Santiago) e de Palmeira (Sal), não têm*. Na Praia estamos expostos à calema (ondulação constante que afecta as operações e estiva), o cais é utilizado tanto para descarga do cimento como da carga contentorizada, o que é problemático porque existem produtos alimentares que necessitam de prioridade para não se deteriorarem, e por vezes os navios têm que aguardar ao largo durante 1 ou 2 dias afectando a regularidade das linhas marítimas. No Sal o problema é premente pois os navios de maior porte não podem atracar e somos obrigados a fazer “transhipment” em São Vicente ou na Praia encarecendo bastante os fretes. A alternativa são os navios da Cabomundo que conseguem atracar no Sal.
Já referiu que Cabo Verde tem evoluído lenta mas consistentemente. Terminaríamos perguntando-lhe o que serão os próximos anos na sua área de actividade?
Os próximos anos serão garantidamente de crescimento. Com a aposta de Cabo Verde no Turismo e nos Serviços, com a credibilidade e a imagem de estabilidade que transmite para o exterior, com as entidades interessadas em investir em Cabo Verde, é um país que dá confiança, tem um risco menor que outros países da Costa de África, por muito ricos que sejam. Cabo Verde tem a riqueza das suas pessoas. O dinheiro nem sempre resolve os problemas.
.....que a visão de António Dias se realize e que se mantenha o valioso serviço da MARMOD neste importante e imprescindível sector de actividade que são os transportes marítimos para Cabo Verde.
*Nota do Editor: Os problemas apontados estão em vias de resolução com o lançamento das obras para amplas melhorias nos Portos da Praia e de Palmeira. Para o Porto de Palmeira (Sal) encontram-se já em curso as candidaturas de “manifestação de interesse” para as obras de ampliação e adequação do porto a navios de maior porte. Para o Porto da Praia, até ao final do ano estarão definidas as condições para lançamento do concurso das significativas obras (45 milhões de dólares) financiadas pelo programa de apoio americano Millennium Challenge Account (MCA), no valor total de 110 milhões de dólares. |